Publicado em 25.03.2021
A morte de John Magufuli e a tomada de posse de Samia Suluhu Hassan como Presidente pode representar um novo capítulo na relação da Tanzânia com o vizinho Moçambique, especialmente no combate ao terrorismo, diz analista.
Em entrevista à DW África, o analista Rufino Sitoi frisa que, após a morte de John Magufuli, entre Moçambique e Tanzânia deve haver mais abertura não só na dimensão defesa e segurança, mas também nas instituições de justiça.
O especialista defende que Samia Suluhu Hassan, a nova Presidente do país – a primeira mulher no cargo – quererá deixar a sua marca própria nas relações diplomáticas com os Estados da região austral de África.
DW África: Com Samia Suluhu Hassan à frente da Tanzânia, pode esperar-se mudanças no país?
Rufino Sitoi (RS): Pelo que se pode observar até então, por exemplo, com a introdução das máscaras que era uma medida que o anterior Presidente não apoiava, já mostra sinais de mudança. Agora, a nível de política externa, nós vimos que Magufuli era muito nacionalista. Isso acabava por ferir o tipo de relações que estabelecia com os países vizinhos. Estamos a falar do nível de projeção que dava aos interesses nacionais que, de alguma forma, interferiam com os objetivos até regionais e com os objetivos dos demais Estados em relação à Tanzânia.
RS: Já havia sinais de abertura nos últimos tempos, com a pandemia, para maior cooperação com Moçambique, por exemplo, no combate à violência extrema. Houve aquela visita de Bernardino Rafael [comandante da polícia moçambicana] à Tanzânia que foi um sinal de há uma abertura para maior cooperação e colaboração. Pode haver essa tendência de continuidade. Porque no final do dia, a violência extrema afeta a todos os Estados. Pode esperar-se continuidade nessa abertura na política de cooperação no combate à violência extrema com a Tanzânia.
DW África: Foi percetivo que Magufuli, numa primeira fase, não foi muito colaborativo no combate à insurgência em Cabo Delgado. Que portas podem agora vir a abrir-se para o combate ao terrorismo nessa região?
RS: Que se ampliem os espaços de cooperação, que ultrapassem a dimensão de defesa e segurança e entrem também na dimensão das próprias instituições de justiça e mais intervenientes no processo de combate e prevenção ao extremismo.
DW África: O facto da Samia Suluhu Hassan ter sido vice-presidente na governação de John Magufuli não pode fazer com que ela tenha hernado esse “braço de ferro” que o antigo Presidente tinha?
RS: Nas lideranças sempre que há transição, há mudanças sobretudo quando são lideranças muito carismáticas. É difícil manter os mesmos traços porque o que sustenta aquelas políticas muitas vezes é o carisma, o nível de compromisso que o líder vende. Samia Suluhu Hassan também tem necessidade de se afirmar quer no plano interno, quer no plano regional. Se quer se afirmar obviamente não vai abraçar aquilo que seriam as relações da Tanzânia com os demais Estados a nível da região.
DW África: Acredita que Samia Suluhu Hassan poderá “quebrar o ciclo” no que toca às políticas de John Magufuli?
RS: Eu sempre dou o exemplo do uso das máscaras que passaram a ser obrigatórias na Tanzânia. Vejo como um exemplo claro de mudanças. Há algumas medidas que ela enquanto vice-presidente testemunhou e não apoiava. Agora, com esta oportunidade, ela poderá implementar aquilo que ela realmente acredita.
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